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quinta-feira, junho 15, 2006

Saudades de quase tudo, saudades do mundo

Saudade. Um sentimento vermelho e verde, tão puramente lusitano.
Todos sentimos saudades de vez em quando: saudades dos amigos, dos familiares, dos bons momentos passados, no fundo saudades a que eu chamo de saudades profundas; ou sentimos saudades de coisas mais simples, mas que, apesar da sua simplicidade, marcaram algumas horas ou apenas alguns minutos das nossas vidas: saudades daquele gelado de Verão, daquele livro que nos emprestaram e que já foi devolvido, daquele filme antigo, daquela música que passou no rádio, daquela série ou telenovela que nos deixava colados à TV, quietos e apáticos ou até saudades daquelas calças que já não nos servem.
Seja do que for, toda a gente sente saudades de alguma coisa, e eu não sou excepção.
Hoje, por exemplo, dei por mim a sentir saudades da minha infância, do tempo em que não tinha preocupações nem responsabilidaes e em que o mundo parecia ter sido pintado com tons coloridos por pessoas alegres e educadas. Saudades do tempo em que eu não me apercebia do racismo nem de qualquer tipo de discriminação.
A seguir, senti saudades do ano passado, dos bons momentos que passei com gente que pensava serem os verdadeiros amigos e que ficariam para sempre, embora alguns (poucos) tenham mesmo ficado. Saudades das brincadeiras e dos disparates na escola e fora da escola.
Fechei os olhos e senti novamente saudades. Saudades de todos os rostos (uns mais vagos, semelhantes aos vultos escuros que se escondem nos filmes de suspense, outros mais nítidos e mais claros) com que me cruzei e que me deixaram mensagens especiais e lições de vida, mesmo que de forma indirecta.
Também senti saudades tuas ó ser oculto que, ou vives dentro de mim ou te apoderaste da minha pessoa, e me fazes sentir tão insignificante e perceber que errei, que me podia ter esforçado mais e ter feito melhor.
Senti saudades de quase tudo, saudades do mundo.
Mas acima de tudo, senti saudades de todos os bons momentos de que me lembrei e apeteceu-me revivê-los, senti-los a todos um a um, saboreá-los lentamente e ter a certeza de que ficariam para sempre.
Agora, já acordada deste sono nostálgico, acredito que a saudade não é necessariamente um sentimento mau, pois todos os bons momentos passados ajudam-me a sorrir cada vez mais e a tentar recriá-los, embora com certeza noutro espaço e com outros protagonistas, que lhes darão outro sabor. Momentos novos que um dia mais tarde, também, eles saberão a saudade.
A saudade é então um sentimento cíclico que nos dá força para continuarmos. Um sentimento vermelho e verde, tão puramente lusitano...
Desculpem este desabafo (e este texto tão longo), mas, no fundo, quem nunca sentiu o que é a saudade?
Saudades de quase tudo, saudades do mundo.
Marta Portocarrero

3 Comments:

  • Nossa... depois de ver que escreve tao bem, me sinto um tanto quanto intimidado!

    Apesar de ser mais nova queeu, sentes algo parecido com o que sempre esta em minha cabeça, dos meus tempos de criança, onde nao se havia responsabilidades nem nada para me preocupar...

    Tempos que nao voltam mais, so emnossas lembramças, que por sinal, é algo muito valioso a nos!

    Issu e algo que sempre vai estar ligado, lembranças e saudades... claro que das coisas boas, e espero ter sempre ter lembrarças bouas sobre voce, e sentir saudades desse tempo que conversamos.

    Beijos, e se cuide!!!

    By Anonymous Anónimo, at 3:40 da tarde  

  • Ai estrelinha...
    O meu único problema com a saudade é a mágoa a ela associada. Mágoa por ver que aquilo de que me lembro, que era bom, agora já não é assim tão bom, nomeadamente, quando são memórias do ano passado. Acredito que também deves sentir um pouco desta minha mágoa.
    Relativamente à infância, tens imensa razão. A infência é a fase mais fácil e bonita da vida.
    Enfim...apesar de tudo, orgulho-me muito deste sentimento lusitano, como tu mesma o descreves.
    Cuida-te***

    By Blogger Margarida, at 12:14 da tarde  

  • simplesmente adoro ler o que escreves... es fantastica e tocas naqueles pontos essenciais... fico toda arrepiada. bjs adrt e continua a escrever

    By Anonymous Anónimo, at 2:37 da tarde  

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